“ Imagine um
grupo de viajantes do tempo de um século anterior, entre eles um grupo de
cirurgiões e outro de professores primários, cada qual ansioso para ver o
quanto as coisas mudaram em sua profissão a cem anos ou mais no futuro. Imagine
o espanto de os cirurgiões entrando numa sala de operação de um hospital
moderno. Embora pudessem entender que algum tipo de operação estava ocorrendo e
pudessem até mesmo ser capazes de adivinhar o órgão-alvo, na maioria dos casos
seriam incapazes de imaginar o que o cirurgião estava tentando fazer ou qual a
finalidade dos muitos aparelhos estranhos que ele e sua equipe cirúrgica
estavam utilizando. Os rituais de anti-sepsia e anestesia, os aparelhos
eletrônicos com seus sinais de alarme e orientação e até mesmo as intensas
luzes, tão familiares às platéias de televisão, seriam completamente estranhos
para eles.
Os professores
viajantes do tempo responderiam de uma forma muito diferente a uma sala de aula
de primeiro grau moderna. Eles poderiam sentir-se intrigados com relação a
alguns poucos objetos estranhos. Poderiam perceber que algumas técnicas-padrão
mudaram e provavelmente discordariam entre si quanto a se as mudanças que
observaram foram para melhor ou para pior, mas perceberiam plenamente a
finalidade da maior parte do que se estava tentando fazer e poderiam, com
bastante facilidade, assumir a classe”.
Percebo
que os professores e as professoras, ao ouvirem esta parábola, estão sempre se
movimentando e gesticulando no sentido da confirmação de tal situação e sempre
pergunto o porquê desta realidade. Já ouvi muitas respostas, tais como: a minha
escola ainda não tem computadores, o diretor da escola não investe nos seus
profissionais, os curso que fiz no magistério e na universidade não abordam o
uso da informática na educação, porque meu salário é muito pouco. Percebo que a
maior parte das justificativas está apoiada nas ações de terceiros, e poucos
são os professores que percebem que o ponto de partida de qualquer mudança
inicia-se num processo interno de sensibilização para uma nova realidade. Volto
a questionar: os professores não estão sensibilizados quanto ao uso da
informática na área educacional? Por que não, se os demais profissionais das
diversas áreas do conhecimento humano já utilizam a informática como
instrumento auxiliar de seus trabalhos?
A
partir desta reflexões, costumo apresentar algumas informações sobre o novo
paradigma educacional. Entre essa abordagens menciono uma pesquisa realizada
nos Estados Unidos, com 55 entidades educacionais, na qual foram levantados os
principais aspectos que poderiam garantir o sucesso dos alunos, de hoje, no
século XXI. Entre esses aspectos, foram citados:
-
Habilidade
em leitura básica, escrita e habilidades matemáticas.
-
Bons
hábitos profissionais, como ser responsável, pontual e disciplinado.
-
Habilidades
em computação e tecnologia de mídia.
-
Valorização
do trabalho.
-
Honestidade
e tolerância para com os outros.
-
Hábitos
de cidadania.
Tais
aspectos estão dispostos de acordo com o grau de importância, conforme a pesquisa
realizada.
Um
outro exemplo complementar sobre o enfoque acima citado são os artigos deBernardo Toro, que definem a forma de comunicação nas sociedades urbanas, as
quais deixam de ser reais, passando a
ser decodificada por meio de símbolos e códigos.
Bernardo
Toro, também, relaciona aspecto de garantia para o sucesso no século XXI, os
quais ele define como “ códigos de
modernidade ” , que são:
-
Alta
competência em cálculo matemático e solução de problemas em todas as ordens.
-
Alta
compreensão em escrita: precisão para descrever fenômenos e situações,
analisar, comparar e expressar o próprio pensamento.
-
Capacidade
para analisar o ambiente social e criar governabilidade.
-
Capacidade
para recepção crítica dos meios de comunicação de massa.
-
Capacidade
para planejar, trabalhar e decidir em grupo.
-
Capacidade
para localizar, acionar e usar as informações acumuladas.
Se
fizermos um comparativo entre as duas abordagens, podemos perceber quanto
existe de similaridades entre elas. Podemos ainda relacionar as idéias
anteriormente apresentadas à Teoria das Inteligências Múltiplas.
Gardner
define a inteligência como a “capacidade de resolver problemas ou elaborar
produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais. A
inteligência não pode ser medida; ela não é um produto acabado, pois,
dependendo do contexto sócio-econômico-cultural, uma ação pode ser valorizada
em um ambiente e em outro ambiente não ter nenhuma significância”. Gardner
apresenta sete competências intelectuais autônomas do ser humano:
-
Inteligêncialingüística – habilidade ou capacidade em lidar com os desafios relacionados
com a linguagem.
-
Inteligência
lógico-matemática – habilidade de resolução de problemas por meio da dedução e
da observação.
-
Inteligência
corporal-cinestésica – habilidade em utilizar movimentos corporais para superar
desafios de uma determinada realidade.
-
Inteligência
musical – habilidade de produzir e perceber as notações musicais.
-
Inteligência
espacial – habilidade em abstrair interação com o ambiente, o espaço e o
ciberespaço para elaborar um produto ou resolver um problema.
-
Inteligência
interpessoal - habilidade em perceber as
intenções e desejos dos seus interlocutores e, com isso, resolver ou minimizar
problemas de comunicação e relacionamento.
-
Além
das inteligências acima citadas, outras estão em fase de pesquisa, que são:
-
Inteligência
Pictória: habilidade em transcrever situações, fatos, emoções por meio de
desenhos.
-
Inteligência
Naturalista: habilidade em lidar com situações
ligadas à natureza.
-
Inteligência
Existencial: habilidade em lidar com situações relacionadas à religiosidade.
Baseados
nas abordagens mencionadas anteriormente, podemos verificar quanto o uso do
computador pode ser importante e útil para o desenvolvimento dos aspectos de
garantia do sucesso no século XXI e para o próprio desenvolvimento das
habilidades específicas do ser humano.
Para
exemplificarmos as correlações entre o computador e as demais abordagens
apresentadas, podemos sugerir algumas exemplificações, tais como:
-
Pormeio de softwares abertos, mais especificamente, os editores de textos, é
possível desenvolver diversas atividades que estimulam as habilidades
lingüísticas, tais como a escrita e a leitura, promovendo diferentes tipos de
produções.
-
Os
softwares de simulação e de programação são excelentes recursos computacionais
que permitem o aprimoramento das habilidades de lógica, matemática e de
resolução de problemas.
-
Por
meio dos softwares gráficos, é possível estimular o desenvolvimento das
habilidades pictórias. Os softwares gráficos disponibilizam uma série de
recursos que facilita a criação de desenhos e representações artísticas.
-
Como
mediador e planejador de atividades físicas, o computador poderá ser um grande
aliado.
-
O
grande “trunfo” do computador é sua
característica interativa com o meio. Por meio dele é possível integrar
diversas mídias e demais recursos tecnológicos, desde o rádio, a televisão, os
vídeos, as filmadoras; portanto, um recurso perfeito para trabalhar sons e,
ainda, torná-los visuais conforme as descrições de seus compassos, medidas dos
ritmos sonoros.
-
A
Internet, como mídia que mais cresce nos últimos anos e tende a ser a mídia
mais popular a médio prazo, tem uma característica ampla de possibilitar
diversos tipos de comunicação e interações entre culturas, de forma bastante
enriquecedora. Quais são as abordagens das pessoas discutindo as questões
históricas entre seus países? Por exemplo: qual é a visão da escravidão para os
alunos portugueses, comparando-a com a visão dos alunos brasileiros? Para
discussão de um tema como este é de fundamental importância que ambos os
agentes ativos estejam preparados quanto aos seus aspectos interpessoal e
intrapessoal.
Percebemos
que os computadores possuem diferentes tipos de unidades, compatíveis com o
mundo em que vivemos: em constante mutação e interativo. Por meio dele, podemos
desenvolver simultaneamente várias habilidades, facilitando a formação de
indivíduos polivalentes e multifuncionais, diferentemente, por exemplo, de uma
máquina de escrever que possibilitava a formação de um único profissional: o
datilógrafo.
É
interessante ressaltar que a maior parte dos empregos que surgirão no próximo
século ainda não existe e com certeza eles, de alguma forma, utilizarão as
novas tecnologias da informação e comunicação; portanto, cabe à escola prestar
a sua grande contribuição na formação de indivíduos pró-ativos para atuarem nas
economias do futuro.
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Ser professor é ter o nobre ofício de exercer a arte de ensinar.