Conforme Cavalcanti (2011), a educação do campo em toda a sua
construção na esfera do conhecimento voltado para essa arena, ou seja, a
formação de cidadãos dentro dessa modalidade teve como marco importante no seu
inicio a realização do l Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da
Reforma Agrária- ENERA em 1997, na universidade de Brasília, a partir de uma
articulação entre o MST, a UNB, o UNICEF e a CNBB, que reuniu educadores e
militantes que atuavam em acampamentos e assentamentos de reforma agrária no
Brasil, e que ao final do Encontro lançaram o Manifesto das Educadoras e
Educadores da Reforma Agrária ao povo brasileiro, trazendo como objetivo a
defesa da educação do campo e, isso de forma geral, ou seja, para todos aqueles
que vivem do campo e que fazem deste seu habitat de sobrevivência.De acordo com
as idéias de Amaral (2007, p.54 ) ,isso
significa:
Falar de educação do
campo é pensar numa educação voltada para os atores sociais que vivem no campo,
uma educação diferenciada que atenda a demanda desta população, com métodos e
formas de lidar com esta realidade de uma forma especial. Não se pode esquecer
que a vida no campo e, no caso, de assentamento de reforma agrária, tem todo
seu significado, cada individuo possuindo uma história de vida, uma história de
luta particular, que não pode ser ignorado.
Dessa forma, entende-se, que a Educação do Campo valoriza
principalmente o indivíduo que vive do campo, a exemplo disso, estar à reforma
agrária, que visa à divisão de terras por igualdades a todos que não tem onde
trabalhar, ainda, preocupa-se, com a formação desse indivíduo enquanto cidadão,
oferecendo-lhe nessa formação estratégias de como trabalhar nessa terra sob
princípios educativos fortemente traçados por um estudo que norteará seu trabalho.
Pois nas palavras de Fernandes (2002) a Educação do Campo é:
Um conceito cunhado
com a preocupação de se delimitar um território teórico. Nosso pensamento é
defender o direito que uma população tem de pensar o mundo a partir do lugar
onde vive, ou seja, da terra em que pisa, melhor ainda: desde a sua realidade.
Quando pensamos o mundo a partir de um lugar onde não vivemos, idealizamos um
mundo, vivemos um não lugar. Isso acontece com a população do campo quando
pensa o mundo e, evidentemente, o seu próprio lugar a partir da cidade. Esse
modo de pensar idealizado leva ao estranhamento de si mesmo, o que dificulta
muito a construção da identidade, condição fundamental da formação cultural. (FERNANDES, 2002,
p.97)
Desse modo, entende-se, que a educação do campo nasceu das demandas
dos movimentos camponeses na construção de uma política educacional para os
assentamentos de reforma agrária juntamente com o PRONERA- Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária. E em 2002, a Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação (CNE), aprovou as Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo. Essas escolas caracterizavam-se, o ponto de
partida para o progresso do homem que vive no campo, aqui, percebe-se, a
efetiva preocupação com o desenvolvimento de seu trabalho, com a
sustentabilidade desse trabalho, pois regido pelo conhecimento, terá como
resultado o progresso desse trabalho. A Educação do Campo elabora estratégias
eficientes voltadas para esse fim.
Em 2003
o Ministério da Educação instituiu um Grupo Permanente de trabalho, para tratar
da questão da educação do campo, criando assim um espaço institucional de
dialogo entre representantes de movimentos sociais do campo e as três esferas
do governo, com a função de discutir políticas publicas, que efetivamente
atendem as necessidades e demandas dos povos do campo, na ótica de que a
educação deve ser um instrumento para o
desenvolvimento sustentável do Brasil rural.(INEP 2007,p7).
O paradigma principal da
Educação do Campo está voltado para a educação do homem no campo. Conforme as idéias
do glossário do módulo II eixo II Rede Diversidade Especialização em Educação
do Campo-Araújo Cavalcanti e Silva – esse paradigma é uma palavra originada do
grego paradigma que significa modelo teórico de explicação para a realidade, e
que servem como referencia para tomadas de decisão, de condutas e de formulação.
Observa-se, que mais uma vez a Educação do Campo fundamenta-se em estudo que
tratam da realidade do homem do campo e, que tenta mostrar suas dificuldades, mas
também a solução para cada um delas. Nesse cenário, a família é considerada o
cenário principal de estudo, de atenção por esse campo de conhecimento.
Convém explicitar, ainda,
que a educação do campo é apresentada como um paradigma, realizada na esfera
política e socialmente no território camponês, aonde a resistência vem se
fortalecendo e se destacando, pois a escassez de educação faz com que o
indivíduo resista à oferta de aprendizagem.
Desse modo, através das
organizações dos movimentos sociais camponeses, num passado não muito remoto,
esses movimentos sociais eram vistos como campos de batalhas, a guerra
perduravam suas ideologias de vida e, talvez não tivesse como bandeira de luta
a melhoria da educação no campo, suas lutas eram apenas ativistas, pois lutavam
por reforma agrária, tendo como objetivo a posse de terras como foco principal
de interesse.
Essa configuração vem se modificando e ganhando autonomia,
valorando a realidade campesina construindo uma identidade própria, ou seja,
construindo sua própria história, percebendo a sua importância, relutando pelos
seus direitos, que não são apenas direitos de propriedade por terras, mas o
direito à educação, saúde, habitação e etc., que são garantidos pela
Constituição Federal, mas que necessitam de ser assegurado pelos entes federados.
Nessa mudança, percebe-se, o quanto a Educação do Campo ganhou espaço, pois tem
assegurado sua ótica de melhorias, isso equivale dizer, principalmente, no
âmbito da educação dessa arena.
Porém, ressalta-se, a grande
importância dos movimentos sociais (quilombolas, ribeirinhos, pescadores,
comunidades tradicionais em geral) nessa intensa empreitada fazer a educação do
campo emergir e ganhar importância dentro do cenário da educação brasileira,
pressuposto que garante uma vida mais digna para o homem do campo.
Nos anos de 2005 a 2009, o debate se amplia em
todas as esferas públicas e, com esse novo cenário de debate e embate
fomenta-se a construção de uma Política Pública de Educação do Campo.
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