Até bem pouco tempo, o modelo de direção da escola,
que se observava como hegemônico, era o de diretor tutelado dos órgãos
centrais, sem voz própria, em seu estabelecimento do ensino, para determinar os
seus destinos e, em consequência, desresponsabilizado dos resultados de suas
ações e respectivos resultados. Seu papel, nesse contexto, era o de guardião e
gerente de operações estabelecidas em órgãos centrais. Seu trabalho
constituía-se, sobretudo, repassar informações, controlar, supervisionar,
dirigir. o fazer escolar, de acordo com as normas propostas pelo sistema de
ensino ou pela mantenedora. Era considerado bom diretor quem cumpria essas
obrigações plenamente, de modo a garantir que a escola não fugisse ao
estabelecido em âmbito central ou em hierarquia superior.
Cabe lembrar que esse procedimento era possível, uma
vez que a clientela escolar era mais homogênea, ante a elitização da educação,
em vista do que, quem não se adequasse ao sistema, era dele banido. A expulsão
explícita ou sutil de alunos da escola foi uma prática aceita como natural. O
entendimento que sustentava essa homogeneidade era o de que o participante da
escola deve estar disposto a aceitar os modelos de organização estabelecidos e
a agir de acordo com eles.
Portanto, tensões, contradições e conflitos eram
eliminados ou abafados.
Os elevadíssimos índices de evasão escolar que
marcaram a escola brasileira podem ser também explicados por um esforço no
sentido de manter a homogeneidade da clientela escolar.
Essa situação está associada ao entendimento limitado
de que a escola é responsabilidade do governo, visto este como uma entidade
superior e externa à sociedade, uma supra-entidade, ao mesmo tempo autoritária
e paternalista. A leitura, ao pé da letra da determinação constitucional de que
educação é dever do Estado, é comumente associada a este entendimento.
Segundo ela, portanto, educação é apenas direito da sociedade. Essa
dissociação entre direitos de uns e deveres de outros, ao perpassar a sociedade
como um todo, produz na educação, diretores que não lideram, professores que
não ensinam, alunos que não aprendem, todos esperando que o outro. faça alguma
coisa, para resolver os problemas ou dificuldades, inclusive os ocupantes de
posições no sistema de ensino.
Segundo essa concepção, adotou-se uma fundamentação
teórica de caráter mais normativo, determinada pelo princípio de certo-errado,
completo-incompleto, perfeito-imperfeito. Adotouse o método de administração
científica, orientado pelos princípios da racionalidade limitada, da
linearidade, da influência estabelecida de fora para dentro, do emprego
mecanicista de pessoas e recursos para realizar os objetivos organizacionais,
da fragmentação e redução dos processos educacionais a tarefas exercidas sem
vida e sem espírito. Nem mesmo, muitas vezes, o pedagógico, como é o caso de
.corrigir provas., .dar nota., dentre outros. Também associada a esta concepção
é o entendimento de que o importante é fazer o máximo (preocupação com a
dimensão quantitativa) e não o de fazer o melhor e o diferente (preocupação qualitativa).
Com esse enfoque, administrar corresponderia a
comandar e controlar, mediante uma visão objetiva de quem atua sobre a unidade
e nela intervém de maneira distanciada, até mesmo para manter essa objetividade
e a própria autoridade, centrada na figura do diretor.
Cabral Neto e Almeida, em artigo neste Em Aberto também
analisam esta questão.
Estes são alguns pressupostos que emergem
desse enfoque sobre a realidade: A
realidade é regular, estável e permanente, sendo dada em caráter absoluto, em
vista do que os sistemas de ensino e as organizações escolares não se
diferenciam significativamente entre si, cabendo a todos a mesma forma de
atuação em suas comunidades.
O ambiente de trabalho e comportamento humano é
previsível, podendo ser, em consequência, controláveis por normas e
regulamentos, que garantiriam uniformidade de ação. Incerteza, ambiguidade,
tensão, conflito e crise são encarados como disfunções e como problemas a serem
evitados e reprimidos, e não como oportunidades de crescimento e transformação.
Os sucessos,
uma vez alcançados, acumulam-se aos anteriores e mantêm-se por si mesmos, não
demandando esforços especiais de manutenção e desenvolvimento.
A
responsabilidade maior do dirigente é a obtenção e a garantia de recursos
necessários para o bom funcionamento da unidade, sendo a precariedade de
recursos considerada como o maior impedimento à realização do seu trabalho.
A melhor
maneira de administrar é a de fragmentar o trabalho em funções e tarefas que,
para serem bem executadas, devem ser atribuídas a diferentes pessoas, que se
especializam nelas.
A objetividade garante bons resultados, sendo a
técnica o elemento fundamental para a melhoria do trabalho.
Estratégias e modelos de administração que deram
certo não devem ser mudados, como forma de garantir a continuidade do sucesso.
Os profissionais e usuários das organizações, como é
o caso do professor e dos alunos são considerados como participantes cativos
das mesmas, em vista do que aceitariam facilmente as normas impostas, bastando
para isso serem cooptados.
A
contrapartida a essa cooptação é o protecionismo a esses participantes,
mediante ações paternalistas e condescendentes.
Mediante a orientação por tais pressupostos, resultou
uma hierarquização e verticalização dos sistemas de ensino e das escolas, uma
desconsideração aos processos sociais neles vigentes, a burocratização dos
processos, a fragmentação de ações e sua individualização e, como consequência,
a desresponsabilizarão de pessoas em qualquer nível de ação, pelos resultados finais.
A eles está associada a administração por comando e controle, centrada na
autoridade e distanciada da implementação de ações, construindo-se, dessa
forma, uma cultura de determinismo e dependência.
Dada, no entanto, a crescente complexidade das organizações
e dos processos sociais nelas ocorrentes, caracterizada pela diversificação e
pluralidade de interesses que envolvem, e a dinâmica das interações no embate
desses interesses, não se pode conceber sejam elas geridas pelo enfoque
limitado da administração científica, pelo qual, tanto a organização, como as
pessoas atuando em seu interior, eram consideradas como componentes de uma
máquina a ser manejada e controlada de fora para dentro. Também segundo esse
enfoque, os problemas recorrentes seriam sobretudo encarados como carência de
insumos, em desconsideração à falta de orientação de seu processo e dinamização
da energia social necessária para promovê-lo.
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Ser professor é ter o nobre ofício de exercer a arte de ensinar.